segunda-feira, 27 de junho de 2011

B O X S . Leitura Dramática

Encontro com a atriz e produtora Karlas Fragoso (MKF Produções), para a realização da Leitura Dramático da texto BOXS, de minha autoria.
A cada sábado, antes de apresentação da montagem "Avenida Independência 161", haverá Leitura Dramática de textos de autores curitibanos, mostrando um pouco da produção de dramaturgia conemporIanea.
São eles:
Diego Fortes, Alexandre França, Luis Felipe Leprevost, além de um texto meu, como já o dito.

Serviço:
BOXS . Leitura Dramática
Teatro Novelas Curitibanas
R. 13 de Maio
07 de Maio . 20h

ENTRADA FRANCA

com Karla Fragoso, Ludmila Nascarella, Kassandra Speltri e Fabiano Amorim

sábado, 9 de abril de 2011

DEVASTIDÃO . Mostra SESI Dramaturgia


Quero agradecer oficialmente a oportunidade e a abertura que este evento têm concedido aos autores/dramaturgos/dramaturgistas/criptocoreógrafos, bem como a atores, e, claro à recepção de cada encontro, de podermos, neste espaço, com a estrutura, a organização e a produção a nos auxiliar, promover, movimentar, podermos mostrar estes textos produzidos até então, e contribuir, de alguma forma, para a concretização de algo que nasce desde já para consolidar-se como de real importância para a cena da produção de dramaturgia que se levanta aqui no Paraná.
Obrigado Scheila Foltran e Nawbert Cordeiro, artistas excepcionais que se dispuseram a este texto.
Obrigado Judite Fiorezze, que atendeu prontamente as minhas indicações.
Obrigado Marcos Damaceno Cia. de Teatro.
Obrigado SESI.
Obrigado Colegas Dramaturgistas.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

FATIA DE GUERRA . Leitura na Cia Brasileira de Teatro




Ontem, 06/04/2011, 18:00h, aconteceu na sede da Cia Brasileira de Teatro, a Leitura do texto FATIA DE GUERRA, de minha autoria, no evento intitulado “em companhia de (…)", no Festival de Curitiba 2011.
a Leitura foi executada pela atriz Juliana Galdino, sob direção de Roberto Alvim, membros fundadores da Cia Club Noir.

Depois de um dia turbulento de trabalho na produção de vídeos, e do ensaio para o outro texto de minha autoria – DEVASTIDÃO, para a MOSTRA SESI DRAMATURGIA – da imobilidade de 3 minutos em frente à porta do prédio da Cia. Brasileira de Teatro, subi, no ímpeto, as escadas.
Entrando na sala, notei o pesado silêncio que ali havia se instalado. A leitura já estava em andamento.

Na penumbra, no canto mais extremo e escondido da sala, temendo chamar atenção, não consegui tirar os olhos da figura vigorosa que, demonstrando uma técnica controlada, numa leitura rica em nuances, timbres, velocidade, tempos, exato controle sobre a atenção, de forma fluente - o que só uma atriz com técnica e dedicação suficiente poderia dispôr, sob uma direção precisa como foi a do Roberto - realmente um exemplo para toda a nossa geração - com uma naturalidade impressionante, fazia com que eu identificasse as palavras que um dia me propus a escrever, tomando agora, dimensões a se desenvolver e ecoar na efemeridade do tempo, na corporalidade do espaço.


.

Era "apenas" uma leitura, e no entanto, não vi da parte dela, nem do Roberto, desleixo para com o trabalho. Em nenhum momento.
Pelo contrário. Todo o respeito lhe foi imbuído, desde o seu primeiro contato.

.

Lá pelo fim da leitura, ela não se conteve, e emocionada, com a garganta presa, deixou as lágrimas rolarem, em frente a todos. Senti a atmosfera da sala mudar. Também, junto com ela, não deixei de me emocionar.

Mas, para fora de qualquer vaidade quew poderia puxar-me a uma possível credulidade cegante que as condições do evento em si poderia sugerir, foi realmente uma ótima leitura, e pude constatar - avaliando comentários como os de Márcio Abreu (Dir. Da Cia Brasileira de Teatro), feitos ainda no calor do evento - que o texto é sim capaz de ser também um objeto de comunicação, e, principalmente, de expansão de um modo de escrita que, para mim, está apontando no horizonte, e que também espero, que esteja apontando horizontes, num movimento que está julgo estar no seu início, e a ter de reinventar, possivelmente, técnicas específicas que possam dar conta destas novas abordagens.

.

Só tenho a agradecer a dedicação do que, julgo, deveria ser parâmetro geral para toda a geração de atores/atrizes que aí está, visando o "ainda por fazer”, afim de que possamos vislumbrar possibilidades de encenar estes textos que estão sendo escritos, afirmo, para este momento, ou para o momento vindouro. Sim - o vislumbre que se faz saudável, premente e urgente.

E, arriscando por cima, só com uma técnica afiada, exata , precisa – o que só se consegue com o debruçar-se com o devido rigor físico e intelectual sobre o trabalho, qualquer que seja este - e com o controle deste, por parte dos possíveis atores que se disporem ir ao encontro destes textos, é que poderemos apontar caminhos para a possível execução destas novas dramaturgias, afim de relativizarmos possibiliddes à execução de experiências que possam ser provedoras, compartilhadoras e expansoras destes universos em questão.

* O identificar as questões que cada objeto de dramaturgia propõe, em específico.

* O colocar-se no lugar primordial de quem propõem tais questões, com e nos textos, especificamente, controlando a pretensão natural de querer dirigí-los, preenchendo por demais as lacunas que tais objetos se nos apresentam, dando assim uma sugestão finita para algo que, a meu ver, tende a nascer com o propósito ser, desde a gênese, um poema infinito.

* O estar aberto a o que eles podem nos oferecer - ao que possivelmente, poderão fazer conosco - com toda a carga que lhes está imbuída, no instante da troca, como o universo particular de cada um que lhes recebe.


Obrigado de todo à Roberto Alvim, por ter compartilhado comigo da leitura deste texto num fim de tarde, na sala da Casa do Damaceno. E à Juliana por ter se disponibilizado para a leitura.

Para mim uma honra, e uma motivação para continuar à escrita - ainda que considere este momento - BOXS, FATIA DE GUERRA, DEVASTIDÃO - como um desenho circular onde a linha já quase tange o ponto de seu início.

sexta-feira, 25 de março de 2011

A FÁBRICA . Making Off

Compreender a forma pela qual se estruturam as relações sociais,
em especial as relações desiguais de obediência e dominação que justificam
a autoridade e a natureza das obrigações políticas, tem sido uma
tarefa constante do pensamento humano.


Já está no ar a primeira parte do making off A FÁBRICA (Ficção, cor, HD, 15′, 2011
Dir. Aly Muritiba - GRAFO AUDIOVISUAL)
Visualização aqui:
http://grafoaudiovisual.com/arquivo/blog/

Depois de um proceso de imersão, com direito a visitas à Casa de Custódia de São José dos Pinhais, conversa com detentos, agentes penitenciários e colher histórias pessoais de pessoas que tiveram históricos de detenções com pessoas próximas, debates em torno da do sistema carcerário, Foucault, e da troca direta com todos os profissionais envovidos na produção, chegamos ao presídio do AHÚ ávidos para o trabalho, num manhã fria de Curitiba, março - 2011.

Aguardo confiante este que promete ser mais um trabalho com especial cuidado da Grafo Audiovisual, sob a batuta de Aly Muritiba
- parceiro já de outros não menos significativos trabalhos e que, cada vez mais, vêm demonstrando maiores cuidados no ato da elaboração dos roteiros, atitude que, acredito piamente, poderá vir a contribuir para, além de outras conquistas, o próprio avanço da estética em que se propõe a doar-se - o que é, para mim, questão de implacável interesse.

Ao making off:
http://grafoaudiovisual.com/arquivo/blog/

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

DUPLO

ESCREVER COMO SE A TUA VIDA DEPENDESSE DISTO
-
-
-
Mas
como saber
Digo
A VIDA DEPENDENDO DISTO
Me pergunto
SERÁ QUE JÁ ESTOU
SERÁ QUE ALGUM DIA JÁ DEIXOU DE SER-ESTAR

Se sou todo amálgama do que crio
- sim
implícito toda a teoria plagicombinatória antropofágica e copy leftiana - cito
eu sei já me atolei e desatolei nisto até o pescoço -
Mas
se sou todo amálgama e resultado duplo do que escrevo então


Olha
estes dias tive um SONHO - este é pra Juliana G. e o Bob A. -

1.
Eu já havia sonhado com este cachorro antes
- pelo menos é a sensação que paira
sem
no entanto
lembrar-se de que situação exatamente

NO SONHO AGENTE SENTE - não precisa VER pra constatar necessariamente

És un perro que me persigue

Magro
estreito
preto e branco
focinho fino
a morder
comer coisas que não devia
com lentidão
e insistência
Desta vez
pôs inteiro na boca meu coturno
-
sim
eu
roupa de combatente
-
com meia e tudo

Fazendo com ele uma bola que já ia pela garganta
Eu com um pedaço de pau
desolado
a tentar tirar a bola de borracha e lã de dentro dele
a pauladas
e chutes
e o material ía pela garganta adentro
devagar
como uma sucuri engolindo um novilho no pampa

Até que meti o dedo dentro de sua boca
em beliscões
botes
afim de que ele não me mordesse
nem arranhasse minha mão em suas fileiras de dentes serrilhados
Ele se esquivava
Eu nas tentativas frustradas
Esquivavas - tentaivas - esquivas - tentativas
Tirei uma parte
Outra ficou dentro de seu corpo que tornava-se pouco a pouco translúcido e
sintético
Eu podia ver através dele que parecia agora com uma
caixa de celofane preta e verde comprida e
translúcida com
cara de cão
patas e rabo
que acabara de engolir algo difícil de fazê-lo
- e que mesmo assim o fez sem relutar
- e que ainda tentava se desvencilhar de mim
como se fosse eu o incômodo
Eu - o Incômodo
Eu (seqüêncial e amalgamado
Horror
nojo
medo
estafado
desolado
extremamente cansado da situação

Continuando

Consegui tirar o material de dentro daquele corpo plástico/aquoso
Neste instante ele se abre
e se desfaz em sua estrutura
como uma velha caixa de papelão em que suas dobras não mais se sustentam

E que sentido há nisto
Lacan -
Lynch -
Uma luz
Uma tentativa
Eu tenho pistas
Poderia revelar
Mas
Aqui não é o lugar pra isto
-
-
-
-
-
sentir a vida dependendo disto
-
-
-
-
-

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

NEVERMORE . UM PASSEIO COM ALLAN POE



Diário de Bordo.
Piraquara, Centro, Casa da Cultura, 16h30.
Último dia de filmagens do excerto BERENICE, para o projeto NEVERMORE - TRÊS PESADELOS E UM DELÍRIO DE EDGAR ALLAN POE.

Cara, como esta cidade têm luz. Que dias luminosos estão sendo estes.
Sol branco.
Parece a costa grega.
Muita luz.
Muuuita luz.

Estou lembrando agora que hoje, após o almoço, quando estávamos na
rua conversando, em frente à locação, veio um senhor já nos seus
longos anos, de cabelos e bigode todo brancos, e seu cabelo, biode e a sua pele tornaram-se ainda mais brancos quando ele saiu
da sombra, me viu e, sorrindo, veio ter comigo, e disse, ao passar
a meu lado, dando um tapinha no meu ombro:
"Bigodinho à moda antiga, hein?! Parabéns!"

Bruno e Merry ficaram só rindo. Bruno ainda protestou: "Pô! E o meu?"
*
E eu que vim conversando sobre AERONÁUTICA com o motorista da Van?
E ele colocou MADONNA pra agradar as meninas na van!
O cara não é gente boa?
*
Olhando estes morros atrás da casa do Marcinho, penso:
Nossa, a praia ‘stá mesmo logo ali! rsrs
E eu aqui, de traje de época, colete, casaco, verificando se este
relógio de bolso é mesmo de ouro!
*
Ssshhhhh...
Silêncio
Deitado no chão,lendo e re-lendo o conto que estamos filmando, vejo
Maurício Baggio (dir. Fotografia) sendo perfeccionista e
experimentador na montagem de luz, desde o início.



Neste instante, especificamente, montando a luz para a cena em que a
personagem BERENICE é mostrada em pé, dentro de um caixão, após sua
suposta morte. Rafaella Marques me surpreendeu mais uma vez (óbvio)
com a profundidade e o despojamento de sua interpretação. É realmente
impressionante e delicioso vê-la executando com maestria, precisão os
vários estados de BERENICE.
Indo da vivacidade jovial à doença, seu corpo contorcendo-se
febrilmente, ao mesmo tempo em que se percebia sua total sintonia com
o tempo do take, a respiração coordenada, o comprometimento.

- Sou mesmo o maior “paga-pau” desta menina! A Rafa é a irmã que tá no
coração em definitivo.

A equipe de arte produziu um dos ambientes esteticamente mais bonitos
com que eu já me deparei: simples, um tanto soturno, um tanto
requintado, um tanto sóbrio. Parabéns Fabio Allon (dir. Arte), que
esteve até ás 3 da matina finalizando o GOL A GOL, nosso outro longa,
dormiu muito pouco, e está de corpo e alma dedicado a este trabalho.
Tenho certeza de que os outros excertos a serem filmados ficarão
fantásticos - nos dois sentidos, afinal... é Allan Poe, rsrs

E creio que Marco Nowak está mesmo se deliciando com a sua Canon EOS
7D. Ele fotografa a todo tempo, com precisão, e discrição. Muitas
vezes só ouvia os cliks de sua câmera, e nem mesmo sabia onde ele
estava, em meio ás sombras daquele casarão de sonho, ou de pesadelo,
no caso de NEBERMORE.


Velas, espelhos, brumas que subiam rente à escada que dava para não sei
onde... não tem fim, me parece. Sua subida. Só reparo, daqui onde
estou, na intensa luz banhando seu corrimão, seus degraus, onde, dali
a pouco, Rafaella - BERENICE vai descer, nos dando mais uma vez um
grande show, e vamos todos prender a respiração novamente, tenho
certeza.

Vejo Helena (Assist. de Câmera) e Nika Braun (continuista) rindo de
modo natural na sua meninice natural, de algo que só elas sabem,
exalando suas perspicácias de raciocínio sempre afiadas. Pode baixar
toda a luz que aqueles olhos não deixam ninguém perdido.

Vejo-as, mais Eugênia (assist. de direção), Bruno de Oliveira (assist.
de direção), por momentos, saindo de suas funções primordiais, e
auxiliando também em questões da equipe de arte, carregando objetos,
até mesmo puxando um ou outro cabo de eletricidade, e me sinto
comovido, ao constatar o espírito de equipe que paira no ar, e que
torna o trabalho ainda mais bonito.
Sei que o orçamento é curto, e não por isto, vejo as pessoas ainda
mais comprometidas com o seu fazer artístico.
E me emociono. Me emociono mesmo.
Simplesmente porque é bonito, porque conheço estas pessoas, porque sei
de sua dedicação, e de sua vontade.

Paulo Biscaia há pouco não estava sentindo-se muito bem, e se abriu,
não guardou para si. Um gesto generoso.
E mesmo assim, não vi sua aura de paixão esvair-se nem um único
instante durante as gravações.
Tenho a impressão, vendo-o agora daqui do canto, com esta lâmina de
luz que quero torcer, de que ele sabe exatamente de antemão como irá
conduzir o trabalho. Isto gera uma sensação de confiançae segurança em toda a equipe, tenho ceteza - ainda que não os tenha entrevistado. Sem deixar o risco Guignollesco de lado, porque sem ele, também, não seria tão emocionante.
*
Após esta cena com a Rafa, será a minha (uma das últimas), em pé, em
frente ao caixão, fitando pela primeira vez BERENICE morta.
Estou a refletir na criação deste PERSONAGEM, E NO MODO DE COMO ELE
AGIRIA NESTA CENA, e chego à seguinte conclusão: Sim, uma lágrima
deverá rolar por BERENICE, ainda que não seja uma lágrima ligada a um
sentimento romântico, mas sim, muito mais relacionada ao fato de que
àquele objeto de desejo de EGEU, configurado naquele momento na figura
de BERENICE, foi-se. Porque foi-se o estado em BERENICE que fazia
tomar a atenção de EGEU. Não, ele não deveria permanecer na sua
imparcialidade altista. Um sinal deveria ser emitido. Uma lágrima
deveria rolar. Mas uma lágrima fria, sem sobressaltos, de um rosto
impassível, sem comprometimento, quase como um estado automático, como
quando KASPER HAUSER sente pela primeira vez o calor da chama da vela
contra sua pele, perpetuado pelo observador atento á sua condição.
Neste momento, o observador seria ele, e ficaria atônito até mesmo com
o fato uma lágrima rolar. A lágrima rola, pelo fato do objeto de
estudo, e da situação não mais o prenderem no estado de PERMANÊNCIA DE
ATENÇÃO.

É isto que pretendo propôr no momento da cena.
Se o diretor não gostar, refazemos. É isto.
Minha ligação com o Paulo me permite certas liberdades de
experimentações, e a ele lhe sou grato por isto.

*
Também não deixei de pensar no Dani (o piazão foda!!!), que iria ser o
"titular" de Berenice, e não pôde, por questões de outros
compromissos, e que havia também me indicado, ficando assim, segundo
suas próprias palavras, "com o coração um pouco menos apertado".
Espero honrá-lo com o melhor do meu trabalho.
Obrigado Dani!
“Têm que fazer, têm que fazer!”
Ele bem poderia ter indicado o VIGOR MORTENSEEN, neste trabalho com a
VIGOR MORTIS.
Nada mais justo não???
*
VALEU PRODUÇÃO
VIVI, TESSEROLI
FUI SUPER BEM TRATADO
E PUDE CONSTATAR A ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO

VALEU MARCE
ANDRÉ, FRAGOSO
ARRASARAM DEMAIS
Acho que fiquei "bem na fita!".
Não fiquei? rsrs
*
Para mim, além de ser um prazer, há também a imensa satisfação de
trabalhar com um grupo que, assim como a PROCESSO, está também "no
coração".
Longa vida VIGOR MORTIS!!!
Bon Voyage à San Francisco - USA.
Que o festival lhes traga fervilhante de idéias.
*
LOVE
KNOLL

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Quando a Violência nos Espelha um Self Ominoso



Encenado na Itália a 23 de outubro de 2008, sob a direção de Elio
Capitani, ou em várias outras partes do mundo desde a morte violenta e
prematura de sua autora – Sarah Kane, Blasted vêm sendo considerada a
mais polêmica obra teatral contemporânea.



O mundo, em Blasted, colapsa em uma sala de hotel.

Foi o momento certo para colocar Blasted no palco. Para mim, para fora
do ar em nosso país e para a coisa que conta mais: os atores ideais
.
Elio de Capitani.

Eu não gosto de filmes violentos, e eu não gosto de peças violentas e
a razão é que eu não gosto de violência
. Sarah Kane.

Não se pode morrer e voltar. Isso não é morrer, é desmaiar. Quando
você morre, é o fim
. Sarah Kane (Blasted).

Temos de ver as coisas de que já sabemos que aconteceria, e temos de
ser capazes de entendê-las
. Sarah Kane.

Que tu não prove a dor, que tu não saiba de nada que você não precise
saber.
Sarah Kane (Blasted).

Sarah esperava muito no mundo e muito mais na vida, talvez mais do que
mereça este mundo e esta vida.
Juan Mayorga.

Escrevo a verdade, e isto me mata. Sarah Kane.



De um ambiente aparentemente tranqüilo em um luxuoso hotel, que pode
ser o de qualquer luxuoso hotel do mediterrâneo, ou europeu, bem como
de qualquer outra parte do mundo, pinta-se um cenário de extrema
violência no ápice de uma guerra civil, permeado por ecos de Varsóvia,
um entre armas, estado policial, coquetéis molotov, HK's, assassinato,
fogo, cinzas, enxofre, sujeira, sangue, contradição, suor, gangues,
sexo, canibalismo, mujahedins, estupro, pedofilia, nazi-facistas,
vermelho, noticiários mega-sensacionalistas, televisivos e impresso,
câmeras de vigilância, punks, padres, religião, vício, hezbollah,
I.R.A., E.T.A., ditaduras, granadas, afegãos, crianças armadas,
lágrimas, felação, xiitas, FARC’s, sunitas, verde, horror em praça
pública e em ambientes privados, guardas, soldados, terrorismo,
antraz, torre de vigília, dinheiro, milhões, tortura, vigilância,
cartazes, pichações, protesto, revolta, medo, liberdade, hardcore,
faixas, arames, alta voltagem, devastadora solidão, hotel, conforto,
fiambre, queijo, cama, demência.

Estes, entre outros temas, supõe-se, compõem e refletem o cenário a
que Blasted está inserido. Enfim, um ambiente urbano que torna-se
violento, onde é definitivamente escancarada a total falta de
segurança e controle sobre seu ambiente, físico e psicológico, como em
toda guerra – da mínima experiência empírica que possamos ter.

Personagens que extravasam seus estados da forma mais cruel possível,
mostrando a nua crueza de seu/nosso estado de ser mais natural – ali
não há a égide pirandelliana do ser composto em múltiplos, de variadas
facetas humanas conformadas por situações/alteridades variadas.

Tudo ali é atravessado pela idéias de esfacelamento, desde o mundo que
está a ruir ao lado de fora das paredes, e que avança, pouco a pouco,
para dentro do quarto, até realmente invadir e rebentá-lo,
literalmente e poeticamente, como o esfacelamento violento das
relações que ali se dão. Até mesmo a luz radiante, acolhedora do dia
claro de sol torna-se opressiva e violenta quando torna-se intensa o
suficiente para destruir e avançar quarto adentro na forma de uma
bombardeio. Esfacela-se a idéia de um ambiente supostamente seguro.
Não há mais paredes, nem trancas, nem conforto. Quando se reduz ao
mínimo, caem as máscaras.

Da evolução da situação inicial de normalidade aparente, transformada
de forma radical em peste artaudiana, acabam tendo de ser/estar
realmente da única maneira possível: suas humanidades escancaradas, a
refletir um estado interior turbilhante, angustiante, nauseante.

A poesia força espaço por meio de golpes violentos, na dramaturgia e –
ao mesmo tempo, na leitura do que é apresentado.

A fragilidade da personagem Kate é aproximada de alguns elementos
similares: o bebê que é trazido às últimas cenas, as flores que são
inseridas de forma magistral em momentos de suspensão; e contrastada
com o ar rude das esferas masculinas que ali estão: os homens, as
armas, o caos social.

A refletir a urgência que se presume o centro da violência física e
psicológica a que submete-se sob a hegemonia de um sistema
totalitário, o desenrolar do enredo nos leva a um encadeamento em que
o horror da situação nos revela uma outra faceta de humanidade,
desgarrada de artifícios. Como em Wladislaw Szpilman, n’O Pianista
(Roman Polanski – 2002), descortina-se um lado humano essencial, após
o desvelamento de camadas e camadas de aculturações que são
sobrepostas, revelando um cerne essencialmente humano: após
tirarem-lhe, um a um, seus códigos culturais que o preenchem e o
acompanham: a profissão, o status, o ambiente seguro e conhecido, a
dignidade, a alimentação, o vestuário, a família, a interação
social... o outro, a alteridade... passa-se a conviver consigo mesmo,
mas este já é um mesmo quase desconhecido, assustador, cru,
desprotegido, tangenciando Kaspar Hauser (O Enigma de Kaspar Hauser
- Werner Herzog, 1974) aculturado – com a diferença de que este não
conheceu anteriormente um estado aculturalizado, e aquele foi-lhe
íntimo, portanto, considero a devastação, neste caso, maior. Deveras.



As regras culturais tornam-se pueris. Abre-se espaço de forma violenta
para os impulsos primevos do ser, estes que permanecem escondidos sob
camadas de repressão a que somos submetidos, que nos é imposto e que
nos impomos, desde a infância, no sentido de um bem comum para a
manutenção do Estado de Direito. No quadro que se desenha, torna-se
desnecessária qualquer necessidade de se ater à convenções. O que
impera é o desejo de sobrevivência, e até mesmo o termo é colocado em
xeque. Aproxima-se do ideário artaudiano do desvelamento frente à
peste: as máscaras caem de forma brutal, e em "Blasted", isto é
vigoroso, ainda que possa ser chocante, terrível. Assim com Kaspar,
Kate é atingida pelo entorno que se transforma no tempo, na tentativa
desajeitadamente pessoal de compreendê-la – até mesmo em estados
inconscientes - numa reflexão sobre as incertezas diante dos golpes
dos acontecimentos e sobre a artificialidade do que chamamos
normalidade. Artificialidade esta que se supõe mesclada com a
normalidade desde o início em que é estabelecido o jogo – a refletir
um estado de realidade, naturalista. Artificialidade que se escancara
de forma brutal - quando as paredes do quarto são destruídas, quando
em face à violação dos corpos as camadas culturais e comportamentais
se esvaem.

Cada um por si e Deus contra todos é o título original que Werner
Herzog deu ao filme, e que parece, a meu ver, uma máxima anterior ao
tratar-se de cenários como o que se descortina em Blasted. Por que
neste, julgo que não há um Deus piedoso ideal, realmente, que possa
permear este universo, tamanha violência contida ali.




A diferença está na forma magistral com que Sarah Kane consegue
inserir este tipo de transformação de violência num tempo extremamente
comprimido, que é o tempo de sua escrita teatral.

Texto fluído, coloquial, por vezes, sem muitas rubricas, e as poucas
que há estabelecem muito mais uma linguagem poética do que realmente
indicações a serem seguidas à risca por um encenador – reflexo de um
Zeitgeist que já teve em sua conformação um desenrolar de uma evolução
de seus modos de escrita, e que dialoga e retorna para a atenção ao
papel de ruptura com regras gramaticais, ou a qualquer artifício que
possa impedir a construção de realidade por parte do dramaturgo
contemporâneo. A criação poética alça vôos. A beleza ata as mãos ao
grotesco. O encenador é obrigado a tornar-se cúmplice de sua linguagem
poética, muito mais próximo de um confidente, do que alguém destinado
a tentar realizar o inviável.

O texto dramático, da forma como o é apresentado, avaliando sua
evolução histórica, mantém o status de ponta de lança, quanto ao
estilo, de forma a incorporar as tendências contemporâneas de
pós-dramaticidade: o texto mostra tanto as falas quanto os
pensamentos, sem a necessidade de indicações quaisquer para isto; nem
indicações para intenções, ou para estados de espírito ou modos de
comportamento, ou deslocamentos, modelos tão importantes ao teatro
moderno, do qual temos exemplos ad infinitum. Tendência contemporânea
vista em outros autores, como em Bernet i Jornet, Daniel Veronose,
David Harrover, Heiner Müller, Jon Fosse, Martin Crimp, Richard
Maxwell, ed alii., como também em Samuel Beckett, este sem dúvida nos
deixando um legado de escrita dramatúrgica imprescindível para a
compreensão de seu modus contemporâneo, assim como a herança
simbolista - no sentido de dar asas à imaginação, sem amarras, sem
limites, a promover idéias que ecoam até os nossos dias - no intuito
de se poder fazer da realidade algo palpável e moldável, de acordo com
nossa extrema urgência e necessidade.

Sarah Kane, ainda que tenha encontrado nos próprios cadarços um fim
possível para um meio impossível, encontrou também através de sua
escrita, um modo de deixar ao mundo um pouco de sua essência, e
Blasted, somada aos outros textos, pode-se nos revelar talvez um mapa
de seu pensamento sobre o mundo, sobre seu modo particular de
interpretar a realidade a que estava inserida, e o modo sobejo em que
se propunha a criar universos.