quinta-feira, 21 de outubro de 2010

DUPLO

ESCREVER COMO SE A TUA VIDA DEPENDESSE DISTO
-
-
-
Mas
como saber
Digo
A VIDA DEPENDENDO DISTO
Me pergunto
SERÁ QUE JÁ ESTOU
SERÁ QUE ALGUM DIA JÁ DEIXOU DE SER-ESTAR

Se sou todo amálgama do que crio
- sim
implícito toda a teoria plagicombinatória antropofágica e copy leftiana - cito
eu sei já me atolei e desatolei nisto até o pescoço -
Mas
se sou todo amálgama e resultado duplo do que escrevo então


Olha
estes dias tive um SONHO - este é pra Juliana G. e o Bob A. -

1.
Eu já havia sonhado com este cachorro antes
- pelo menos é a sensação que paira
sem
no entanto
lembrar-se de que situação exatamente

NO SONHO AGENTE SENTE - não precisa VER pra constatar necessariamente

És un perro que me persigue

Magro
estreito
preto e branco
focinho fino
a morder
comer coisas que não devia
com lentidão
e insistência
Desta vez
pôs inteiro na boca meu coturno
-
sim
eu
roupa de combatente
-
com meia e tudo

Fazendo com ele uma bola que já ia pela garganta
Eu com um pedaço de pau
desolado
a tentar tirar a bola de borracha e lã de dentro dele
a pauladas
e chutes
e o material ía pela garganta adentro
devagar
como uma sucuri engolindo um novilho no pampa

Até que meti o dedo dentro de sua boca
em beliscões
botes
afim de que ele não me mordesse
nem arranhasse minha mão em suas fileiras de dentes serrilhados
Ele se esquivava
Eu nas tentativas frustradas
Esquivavas - tentaivas - esquivas - tentativas
Tirei uma parte
Outra ficou dentro de seu corpo que tornava-se pouco a pouco translúcido e
sintético
Eu podia ver através dele que parecia agora com uma
caixa de celofane preta e verde comprida e
translúcida com
cara de cão
patas e rabo
que acabara de engolir algo difícil de fazê-lo
- e que mesmo assim o fez sem relutar
- e que ainda tentava se desvencilhar de mim
como se fosse eu o incômodo
Eu - o Incômodo
Eu (seqüêncial e amalgamado
Horror
nojo
medo
estafado
desolado
extremamente cansado da situação

Continuando

Consegui tirar o material de dentro daquele corpo plástico/aquoso
Neste instante ele se abre
e se desfaz em sua estrutura
como uma velha caixa de papelão em que suas dobras não mais se sustentam

E que sentido há nisto
Lacan -
Lynch -
Uma luz
Uma tentativa
Eu tenho pistas
Poderia revelar
Mas
Aqui não é o lugar pra isto
-
-
-
-
-
sentir a vida dependendo disto
-
-
-
-
-

Um comentário:

João Machado disse...

...adotando Jon Fosse

Cão e Andrew então
duplo
não preciso ver pra constatar
necessariamente
sinto