quinta-feira, 13 de setembro de 2007

A ESPIRAL DO YOUTUBE

Por Marcelo Tas

Como é possível alguém pagar US$ 1,65 bilhão por uma empresa criada por dois moleques com um ano de funcionamento ainda operando no vermelho? O milagre se torna crível quando a empresa em questão é o You Tube e o “alguém” que a comprou é o Google – o polvo eletrônico que aos 8 anos de vida representa 60% das buscas na Internet com um valor de mercado de dezenas de bilhões de dólares.
Mas a montanha de dinheiro no bolso não explica a loucura. A que estamos assistindo desta vez? A um novo terremoto que agora vai apavorar e transformar a indústria do audiovisual? A uma nova forma de ver TV? A uma nova modalidade para os sites de relacionamento na Internet? Digo “sim” para todas as interrogações anteriores. E sugiro que para entender o sucesso explosivo do You Tube deve-se começar pelo final.
O You Tube é, antes de tudo, um site de relacionamento. E o “culpado” pelo sucesso é o design do site: simples, divertido e espiralado.
Você entra, busca um assunto e pimba: fica grudado lá por horas. Claro, ‘horas’ é modo de dizer. Os vídeos no You Tube têm duração máxima de dez minutos (a não ser que você tenha uma conta especial). Mas numa busca por “Woody Allen”, encontrei tanta coisa que não conhecia que fiquei “horas” lá dentro. Surgem cenas sensacionais de filmes desconhecidos. Participações do baixinho de óculos em talk shows da época em que ele ainda ia a talk shows. E até mesmo uma palestra sobre nanotecnologia no MIT em que o cientista cita Allen para falar da velocidade dos espermatozóides humanos.

BIBLIOTECA DE BABEL


















Todos os dias, 100 milhões de vídeos são vistos no You Tube! Ibope de dar medo a qualquer rede poderosa de TV. Foi lá que o Brasil inteiro assistiu ao namoro à beira mar da Cicarelli. Foi lá que surgiu o fenômeno “Tapa na Pantera”, antes um curta metragem nacional tão premiado quanto desconhecido. A diferença é que esta audiência gigantesca não é sincrônica, como num jogo da seleção brasileira. É formada por meio de um boca a boca eletrônico na velocidade da luz. O que lhe confere mais vigor e credibilidade. As pessoas vão até o conteúdo. E não o contrário, como na TV tradicional. Sim, o You Tube é um site de relacionamentos. Não daqueles de virtual affairs. Mas do tipo que relaciona pessoas e assuntos. É como se você pudesse bisbilhotar cenas dos filmes ou programas de TV que seus “amigos” andam assistindo. E ao clicar nos “amigos”, você ainda pode ver as preferências dos “amigos” desses “amigos”. Ou seja, uma bola de neve. O tal design espiralado.
Num de seus contos, A Biblioteca de Babel, Jorge Luis Borges nos fala de uma escadaria em espiral num labirinto de informações. Lá estão todos os livros escritos pelo homem. E os que ainda não foram escritos. Livros com todas as páginas em branco, livros formados apenas por palavras que se iniciam pela letra A, livros escritos de trás para a frente, etc... A ironia é que muitos que ali entram para buscar algo importante para suas vidas, como o segredo dos alquimistas, acabam soterrados pelos zilhões de livros inúteis que lá também habitam.
Não existe descrição mais precisa para o You tube. Ou para a própria Internet. Mas não se iludam. O sucesso do Google, que acaba de comprar o You Tube, vêm da missão imposta no momento zero da criação da empresa: organizar toda informação do mundo e torná-la acessível e útil.
Cada palavra digitada no Google percorre pelo menos 600 computadores na Califórnia e coloca as respostas de volta na tela do seu computador, onde quer que você esteja, em apenas um quinto de segundo. Se os caras ainda não conseguiram organizar a Babel, parece que estão no caminho certo. Pelo menos até a próxima dupla de moleques mudar tudo de novo.

Marcelo Tas é jornalista, apresentador de Tv e autor do blog www.blogdotas.com.br

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